Os 3 pilares do Cuidado Ativo
Veja nesse artigo como se beneficiar dos 3 pilares do cuidado ativo. Como deixar de atuar procurando por gente fazendo o errado, e as empoderando a fazer o certo.
A segurança do trabalho mais utilizada nas empresas brasileiras é aquela que se preocupa mais com cumprir requisito do que com que as pessoas se sintam seguras.
Acreditamos que se implantarmos a “norma tal” deixaremos de ter acidentes. E então nos afastamos das pessoas para implementar processos, mais burocracia e para ajudar a empresa a cumprir procedimentos para trazer segurança para as… pessoas?
Nas empresas temos poucos líderes (o líder por definição é aquele que guia e lidera pessoas) e muitos gestores (de sistemas, de processos, de planos, de procedimentos).
A segurança do trabalho é real quando envolve genuinamente as pessoas. O melhor procedimento, a melhor lei de segurança do trabalho não trará resultados efetivos para a empresa, se a frente de trabalho não for envolvida.
A maioria das pessoas se preocupa, mas com muita frequência as pessoas deixam de agir de acordo com seu carinho. Eles aparentemente não têm coragem de agir para evitar danos potenciais a outra pessoa.
Cuidado ativo nos ensina a ir além de “simplesmente se importar” com os outros, para “agir de acordo com esse carinho” ou senso de responsabilidade.
Um traço comum em empresas com alta maturidade na cultura de segurança é envolver as pessoas na segurança, é se preocupar com as pessoas, é dar a elas certa dose de autonomia.
Os 3 pilares do cuidado ativo são cuidar de si, cuidar do outro, e, se deixar cuidar. No texto abaixo daremos alguns exemplos de aplicação.
CUIDAR DE SI
Você já “andou de avião”, se sim, deve se lembrar dos comissários de bordo. Lembra do recado dos comissários de bordo para os casos de despressurização da aeronave? Em quem devemos colocar primeiro a mascara? Pois é, tem que colocar primeiro em si mesmo, para depois colocar no outro. Mesmo se esse outro for seu filho!
Acontece que em caso de despressurização da aeronave, em poucos minutos a pessoa fica sem ar respirável, e logo, desacorda. Colocar a máscara primeiro em si, é um ato de carinho com você e até com a pessoa que está ao seu lado, e que eventualmente não sabe, ou não consegue colocar em si mesmo.
Até na Bíblia amar a si mesmo (cuidar de si mesmo) em antes de amar o próximo. Matheus 22: Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo.
O auto cuidado é pré-requisito para cuidar do outro. Se alguém não está utilizando o protetor auditivo em ambiente ruidoso, como ele terá moral para cobrar que o colega o utilize?
Alguns exemplos de cuidar de si: adotar comportamentos seguros, dormir bem, comer bem, praticar exercício físico, tirar tempo para descanso, leitura, cuidar da vida espiritual.
CUIDAR DO OUTRO
“Nestor, mas eu cuido dos outros, de vez em quando dou uma cesta básica para as pessoas carentes lá na minha igreja”…
Podemos cuidar dos outros além de ações sociais. Até porque dar cesta básica é fácil, isso não suja as mãos de ninguém. Mas as pequenas práticas do dia a dia, nem sempre são fáceis.
Pequenas práticas e ações simples também são formas eficientes de cuidar do outro.
Exemplos: carinhosamente e no tom certo, chamar atenção de alguém que esta correndo risco, ajudar o colega que não sabe utilizar corretamente o EPI, ajudar alguém com dificuldade de mobilidade a atravessar a rua, ao dirigir, parar na faixa de pedestres para que as pessoas atravessem.
SE DEIXAR CUIDAR
Quem gosta de ser chamado a atenção por que atravessou a rua sem utiliza a faixa de pedestres? Ou por que mudou de faixa no trânsito sem sinalizar?
O estado de defesa que entramos quando alguém nos chama atenção cria paredes em torno de nós! Paredes que nos impedem de ser uma pessoa, um profissional melhor.
Existem até frases prontas que pessoas utilizam para se defender quando alguém lhes chama atenção, tipo, “quer cuidar de duas vidas, case”, “isso é problema meu”, “o que você tem com isso”… Todas essas frases podem expor certa dose de imaturidade da pessoa que poderia ter deixado ser cuidada.
Se deixar cuidar é um ato de maturidade! É por isso que funciona bem em empresas maduras em termos de segurança.
O cuidado ativo pode ser ensinado, e funcionar bem mesmo em empresas imaturas. Ele pode até ser um dos fatores que ajudará a empresa a desenvolver a maturidade na cultura de segurança.
CONCLUINDO
A frequência de cuidar ativamente varia diretamente de acordo com as respostas que as pessoas e empresa dão a ele. Sua empresa, por exemplo, reforça o comportamento de cuidado ativo ou o repele?
A resposta da liderança aos comportamentos dos trabalhadores, acaba por definir quais comportamentos se tornarão hábito.
Dos conceitos de cultura de segurança, o que mais gosto é o do Schneider, 1990 ele diz que:
Cultura de segurança são as percepções dos eventos, práticas e procedimentos, bem como do tipo de comportamento que são recompensados, apoiados e esperados em um ambiente organizacional específico.
O cuidado ativo ajuda a organização e o trabalhador a entender a segurança como um valor por todos. Valores são pessoais e muitas vezes inegociáveis!
Outro ponto interessante é que quando a empresa consegue implementar os pilares do cuidado ativo, cada indivíduo se sente responsável pela segurança de seus colegas de trabalho, bem como deles próprios. Os trabalhadores assim conseguem ir além da sua função e colaborar no bem do colega e da organização. Acabam adquirindo sentimento de pertencimento, sentimento de dono.
Como toda habilidade, o cuidado ativo pode ser ensinado e aprendido. Toda nova habilidade requer conhecimento, prática, repetição e resultado. No aprendizado do cuidado ativo isso também é verdade.
Buscar maneiras de cultivar uma cultura de trabalho ativamente atenciosa levará tempo e exigirá coragem.
Espero que tenha gostado de conhecer mais sobre os 3 pilares do cuidado ativo. E então, que tal começar a trabalhar os conceitos do cuidado ativo aí na sua empresa? Garanto que ela e trabalhadores têm muito a ganhar! Todo esse trabalho valerá o esforço. E se precisar de ajuda com o cuidado ativo e programas de segurança comportamental, entre em contato.
Bibliografia:
Comportamento Seguro. Autora: Juliana Bley.
The Psychology of Safety Handbook. Autor: Scott Geller
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