As regras de SST da sua empresa são relevantes? Como reavaliá-las?
As regras de SST da sua empresa são relevantes? Essa é uma pergunta importante, que leva a uma reflexão importante, mas infelizmente que é feita em pouquíssimas empresas…
DIMINUÍRAM AS REGRAS DE SST E OS ACIDENTES DIMINUÍRAM?
Esses dias eu estava lendo um case de SST do Woolworths Supermarket que é uma rede de supermercado australiana. O resumo do case mostra que a tal rede retirou do processo produtivo todas as regras de segurança que não estavam nas leis, e os acidentes trabalho diminuíram.
A empresa fez vários workshops com os profissionais de SST, trabalhadores e líderes para decidir quais regras ficariam, quais seriam retiradas, e também para definir quais unidades (lojas) seriam utilizadas no estudo.
Porque numa empresa que retirou regras os acidentes diminuíram? Isso provavelmente aconteceu porque muitas das regras existentes não faziam sentido dentro da operação!
Outra mudança, foi que a liderança da empresa mandava da matriz os pacotes de segurança com os DDSs, regras e placas para as filiais, com tudo que elas teriam que fazer. Cada filial então, passou então a criar os seus próprios processos de segurança, de forma interna ainda submissos a matriz, mas criados nas próprias filiais.
Quando tiraram regras a liderança da empresa e os trabalhadores entenderam a real responsabilidade deles no processo de trabalho, ou seja, tiraram a obrigação e o resultado foi o aumento da responsabilidade.
No caso o trabalhador passou a entender o que fazer para se manter seguro, o líder passou a entender o que fazer para manter o trabalhador seguro. A empresa só manteve as regras obrigatórias e regras que fizeram sentido no contexto da operação deles.
AS REGRAS DE SST DA SUA EMPRESA SÃO RELEVANTES?
Nas nossas empresas é preciso refletir constantemente sobre as regras, e utilizar na empresa apenas regras que fazem sentido. Olhar com carinho para a operação, conversar com o trabalhador e juntamente definir o que é relevante para a segurança dele.
A ideia é fazer a liderança e os trabalhadores através do seu envolvimento, se sentirem os donos da segurança. E isso aumenta a consciência.
O engajamento do time em SST, e a consciência da sua força coletiva, são ferramentas muito fortes na prevenção de acidentes.
QUAL A DICA PARA ELABORAR UM MANUAL DE SEGURANÇA NÃO EXTENSO?
Para elaborar um manual de segurança verdadeiramente útil e não extenso, que abordem todos os pontos necessários, a dica é conversar com trabalhador para entender a operação!
Na área de segurança do trabalho vemos muita coisa insana. Uma delas é um profissional escrever um manual de segurança com base apenas na legislação, ou seja, sem entender como o trabalho é diariamente realizado. Escreve um manual para operador de betoneira, sem entender a operação da betoneira, escreve um manual e regras para o operador de serra circular sem nem entender qual é a rotina de uso da máquina.
Elaborar um manual dentro do escritório, baseado na legislação, e desprezar a realidade do trabalho, é a melhor forma de ter um manual de gaveta.
Ao escrever um manual converse com os trabalhadores, peça opinião a eles, se possível, deixe que eles comecem a escrever o manual, ou ao menos, valide com eles item por item do manual.
REVISE AS REGRAS DE SEGURANÇA DA SUA EMPRESA
Periodicamente pergunte aos trabalhadores “quais das regras de segurança que temos aqui te atrapalham de produzir?”É preciso deixar o trabalhador falar sem nenhum tipo de censura ou julgamento. E se ele disser “tal regra não faz sentido”, busque com ele entrar nos detalhes de porque a regra não faz sentido (na visão dele), no que especificamente ela atrapalha, e como poderia ser melhor.
Praticar a escuta ativa é importante, porque nos ajuda a levar em consideração mesmo opiniões que não concordamos, nos ajuda a ver o mundo pelos olhos da outra pessoa. Uma dica de leitura para quem deseja se comunicar melhor é o livro Comunicação Não Violenta.
Em conversas sobre regras, é comum que trabalhadores falem coisas que nós como profissionais de segurança não concordamos. Para ter sucesso nessa empreitada, é importante ter uma escuta respeitosa a ponto de deixar um canal aberto. É fundamental suspender o julgamento a respeito da pessoa que fala, se ela é uma das pessoas que menos colaboram com o setor de SST, de que isso importa? O foco no objeto em debate, e não no julgamento da pessoa, é fundamental.
Todos os procedimentos de segurança devem ser feitos com o trabalhador, seja um check list, um manual ou qualquer outro. Quando for criar um check list ou algo parecido crie o corpo dele, e entregue ao trabalhador para ele entender o que está sendo criado. A ideia é que o trabalhador seja peça ativa na criação do check list, procedimento, manual.
A ideia aqui a ideia é fazer com que o trabalhador se sinta o dono do check list, o dono do manual, procedimento, etc. Uma coisa é tentar motivar o trabalhador a aderir às práticas de SST através da imposição, outra é convidar o trabalhador a ser peça ativa, a participar, a se sentir o dono.
O engajamento vem quando os envolvidos se sentem o dono, e não quando alguém os manda fazer!
As permissões de trabalho fantasmas, o baixo envolvimento dos trabalhadores nas APRs, permissões de trabalho, check lists e outro, se dá justamente porque ele normalmente em nenhum momento ele é convidado a fazer parte. É muita imposição que leva a baixa participação e sentimento de dono.
MAS O TRABALHADOR NÃO ENTENDE DE SEGURANÇA, PORQUE VOU OUVI-LO?
O trabalhador entende muito mais de segurança do que você imagina!
A prova de que o trabalhador entende de segurança que é muitas empresas sequer se preocupam com segurança, e mesmo assim o número de amputações e óbitos nas empresas é proporcionalmente baixo em relação ao número de empregados.
O colega Carlos Massera costuma dizer que “a verdade está na operação”. Quando tiramos os olhos da operação e olhamos somente para legislação, corremos o risco de ignorar tudo que está acontecendo no trabalho real. E assim corremos o risco de escrever formas de trabalho que só funcionam na teoria.
CONCLUINDO: REGRAS DE SST DA SUA EMPRESA SÃO RELEVANTES?
Quando a segurança se distancia da realidade, o efeito é que o próprio trabalhador tende a se afastar da segurança do trabalho. E daí surgem frases como “esse cara da segurança, está no mundo da lua, tudo o que ele planeja é impossível implementar”.
Infelizmente falta ao profissional de segurança, normalmente, certa dose de humildade ou de maturidade, para entender que ele não é o dono da segurança. Falta o olho no olho com o trabalhador, e transferir a propriedade da segurança para ele.
O trabalhador só apoia aquilo que ele ajuda a criar! Que possamos andar junto com ele para diminuir a “segurança do faz de conta”, diminuir o “gerar documentos, programas e procedimentos para apresentar ao fiscal, para resguardar a empresa”, para em conjunto com trabalhador ter uma segurança do trabalho mais realista.
Uma segurança do trabalho que conversa com todos os envolvidos, é uma segurança agregadora, respeitosa e focada em resultado. E tudo isso aumenta a maturidade da cultura de segurança, que ajuda a aumentar o índice de comportamentos seguros, diminuir acidentes e doenças do trabalho, e a melhorar a qualidade de vida no trabalho, que é nosso objetivo principal, não é?