3 Sintomas perversos da busca pela perfeição na gestão de segurança
A busca pela perfeição na segurança do trabalho tem deixado muitos prevencionistas doentes ou isolados. E ela se manifesta em 3 sintomas.
Na segurança do trabalho os líderes e profissionaisda da área, por vezes, são levados a linguagem, a busca pela perfeição, e não fazem por maldade, na verdade há boa intenção por trás disso, mas, a linguagem da perfeição atrapalha muito mais do que ajuda, se é que ajuda…
A busca pela perfeição pode causar transtornos mentais e emocionais e causar doenças.
Há vários colegas prevencionistas que adoecem por causa do trabalho, na verdade, adoecem mais por causa das crenças pessoais ou organizacionais do que por causa do trabalho em si. São colegas que querem cuidar da segurança dos outros, mas acabam esquecendo da segurança pessoal, ou da própria saúde mental.
A busca pela perfeição possui pelo menos três características principais, que podem ser encontradas juntas ou de forma individual:
- A TENDÊNCIA DE ESTABELECER PADRÕES E METAS E IRREALISTAS
“Nossa meta é fazer com que todos os trabalhadores utilizem os equipamentos de segurança de forma apropriada o tempo todo”. O problema maior é que muitas vezes o setor de segurança determina uma meta como essa numa empresa que tem uma cultura de segurança e imatura!
Se numa empresa que possui uma cultura de segurança madura já é impossível conseguir a perfeição de algum elemento, imagine uma empresa que tem uma cultura de segurança imatura.
A cultura sempre vence a estratégia! Por isso a estratégia deve ser suficientemente sóbria para não ignorar a cultura da organização. Qualquer ação de segurança terá chance de dar certo se estiver calibrada no nível da cultura organizacional.
A busca pela maturidade da cultura de segurança é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. É uma objetivo de longo prazo que pode ser alcançado com planejamento realista e dedicação, mas leva tempo.
- A TENDÊNCIA DE USAR A LINGUAGEM DO TUDO OU NADA
Zero acidente, zero incidente, risco zero, dano zero, 100% seguro são exemplos de metas extremistas. São metas boas para colocar na parede, mas só na parede mesmo… Essas metas só poderiam ser alcançadas dentro de ambiente com temperatura e pressão controladas. Coisa impossível de conseguir em empresas com sistemas sociotécnicos complexos.
No ambiente de trabalho as prioridades estão competindo umas com as outras o tempo todo. A segurança compete com a qualidade, a qualidade compete com a produção, a produção compete com estoque, o estoque compete com a entrega e por aí vai.
O conceito VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity) explica muito do que experienciamos atuamente, ele foi criado em 1980 pelo Army War College, dos Estados Unidos. O mundo hoje é VUCA, ou seja, Volátil, Incerto, Caótico e Ambíguo! E assim como o sistema de produção não é linear, muitas vezes nem o ambiente psicológico é.
As máquinas não são perfeitas, o ambiente de trabalho não é perfeito, a gestão de segurança não é perfeita, as pessoas não são perfeitas. Como em ambientes de tamanha imperfeição poderíamos ter controle absoluto a ponto de garantir o zero?
A verdade é que o zero só é alcançado no mundo das ideias, ou durante um curto (bem curto mesmo) espaço de tempo no mundo real.
- A TENDÊNCIA DE FOCAR EM PEQUENOS ERROS E FALHAS E DESPREZAR O PROGRESSO OU A REALIZAÇÃO NO GERAL
Quem aí é marido talvez já tenha passado por algo do tipo, você pega a lista de compras e vai ao supermercado compra quase tudo, quase! Você esqueceu de trazer o cotonete, ou deliberadamente trocou o melão pelo mamão (o primeiro estava muito caro) … Já era irmão!
Todo esforço que você fez ao escolher elemento por elemento, e colocar tudo no carrinho de compra foi jogado por água abaixo. Você esqueceu ou trocou um item, e sua esposa te critica como se não houvesse amanhã. Irritada ela diz “Porque você nunca se lembra de nada”…
Em algumas organizações a sensação é parecida com a citada acima. Nesse caso o profissional de segurança é que faz o papel da esposa. De tudo o que foi programado quase tudo foi feito, quase, o problema é sempre o quase.
Enquanto ficarmos procurando a perfeição em nosso sistema de gestão de segurança estaremos fadados a frustração. E com a frustração vem o desânimo, a desilusão e o sentimento de incapacidade.
Na segurança do trabalho qualquer evolução deve ser comemorada, por menor que seja ela, afinal, na maioria das empresas não há sequer evolução, por algum motivo, elas estão estagnadas. O sentimento positivo, e o reconhecimento dos esforços de todos os que contribuíram, pode levar a organização a lugares ainda mais altos.
CONCLUSÃO – 3 SINTOMAS PERVERSOS DA BUSCA PELA PERFEIÇÃO NA SEGURANÇA
Os perfeccionistas são rígidos, e essa rigidez fazendo-os ficar isolados ou doentes.
Muitas organizações dizem que valorizam a criatividade e a inovação. O problema é que a busca pela perfeição impede o aprendizado que só pode existir num ambiente de tentativa, experimentação e erro, quando isso não é possível a evolução acaba sendo sufocada e morre…
Eu sei que a busca pela perfeição e o objetivo das metas zero ou 100% é tentar motivar as pessoas. Mas quando o objetivo é inalcançável pode acabar surtindo o efeito contrário. Logo de início as pessoas tendem a torcer o nariz, isso porque ninguém é motivado por metas inatingíveis.
O time de segurança dentro das suas possibilidades deve trabalhar para promover a maturidade cultural e não a perfeição. Qualquer “slogan ou meta de segurança radical” deve ser evitado.
O objetivo da gestão de segurança não deve ser a perfeição, mas atingir a maturidade! Quando a gestão vai se tornando mais madura ela tende a ser mais lenta em criticar e mais rápida em parabenizar. E isso tende a se refletir no sentimento positivo e de realização de todos que fazem parte da equipe, inclusive do Time de Segurança!
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